Thursday, December 07, 2006

Duplo

Duplo

Então eu estava diferente. E ele foi direto para o banheiro, abriu o chuveiro e começou a falar sozinho. Cantou, e também pronunciou palavrasque me faziam vibrar em freqüências diferentes. Abriu seu pulmão, e acada respiração que dava, eu podia sentir as moléculas de ar dançando em todas as partes.
Eu estava vazia, e meu vazio lhe abraçava por todo os poros. Eu era um ser totalmente em branco e ele era meu contorno imaginário.
Pensei, em tirar uma foto de mim mesma, retratar de algum modo todo aquele momento de dúvidas e incertezas.
Não pude fazê-lo.
Então ele se posicionou em frente ao espelho e lá escreveu o que eu estava sentindo de forma embaçada. Foi quando dormi.
Assim que acordei, curiosa, fui até o banheiro para ler a frase que ele ali deixara.
Mas ela não estava mais lá, havia evaporado.
Nem ele, nem eu, tínhamos todos evaporados como aquele texto que se perdeu em poucos momentos.
O que restou foi um rosto, e dois olhos, que nunca se viram.

CF.

2 comments:

Anonymous said...

Cara, tem um texto do Albert Camus em que ele coloca um casal (no livro Diário de Viagem, acho)que viaja para o deserto. Muito bom. Você me fez lembrar disso. Texto com muitas possibilidades para o leitor, isso é que é bom.

Anonymous said...

Caraca, ainda bem que você voltou. A complexidade das tuas palavras é realmente um espelho capaz de enxergar não só a carne, mas o nosso Eu por dentro!
Te beijo!